segunda-feira, 10 de maio de 2010

Ao fracassado convém

Ao fracassado convém se convencer de que a grama do outro só é mais verde porque vista daqui.

Ao fracassado convém crer que só perdeu aquilo que idealizou. Que a uva nem existia.

Ao fracassado convém transcender a luta, psicanalizar a uva. Ao fracassado convém achar que o fracasso é ilusório, por mais que a vitória do outro seja real e (hum...) uma delícia!

Ao escritor de livro de auto-ajuda convém vender ao fracassado.

Escritor de livro de auto-ajuda adora dizer que a uva não é tudo, que existe pêra, maça, amora, banana-nanica, banana-sofisma. Tenta inclusive emplacar que o vencedor foi quem ficou com o abacaxi. Filosofia barata se compra a quilo, mas a verdade é que a uva não é uva, é metáfora, é a própria fruta. E que a fruta – que também não é fruta - poderia ser qualquer uma delas, mas acabou.

Ao fracassado convém achar que a vida continua. E continua mesmo, a desgraçada. A uva é que não.