quinta-feira, 30 de junho de 2011

A doceira

Estapeio na cara as crianças do porão
Que correm pra porta ao berros, pulando, rindo
Se lhes parece que outra vez vem vindo
A doceira embrulhada no doce,
No brilho do papel do doce,
No doce do papel.

A cicatriz nas crianças de carnes marcadas,
De carnes dadas aos dentes
De um mundo embrulhado em papel reluzente
Por doceira embrulhada em papel de atriz,
A cicatriz
As crianças não sabem quem fez.
Seus pedaços estavam em mim, lhes doparam,
Tiraram um rim, lhes deram um sim
E entraram.

Amor,
Lembra o conto do espelho
O canto das almas iguais.
Amor,
Conta os pontos no espelho
Margeando o sorriso que olhais.
Amor, olha o traço riscado
Que vai contigo aonde vais.
Olha o riso traçado
Por quem não vai voltar mais.
Amor, olha o fio
No brilho em papel de bala.
Amor, afoga a esperança,
Enforca as crianças na sala.