Se de rastejar a lagarta se cansa,
Eu de pensar e de sentir virei casulo.
Peço passagem a outro plano
Que é nulo todo este rastejar
Do ser humano.
Andar é pesar e ao respirar
Sorvemos sempre algum veneno.
Existir tampouco é inofensivo,
Seu principio ativo já começa a corroer
O mecanismo do teatro do viver.
Chega com essa farsa,
Perdeu a graça ser humano.
É asa o que no verme é padecer
Destes pés, de seu peso e caminhar.
Peço passagem ao plano do ar
Que já não acho natural
O andar que é ser lagarta e doer
Ou o faltar que dizem parte do ser.
Nego a norma de ser normal
O mal que é norma do viver
E sinto mais mal na norma
Que normalidade em sentir mal.
Chega com essa farsa,
Perdeu a graça ser humano.
O ranger da engrenagem
Do esforço que faço existindo
É o ruído deste estar ruindo,
Traço de veneno no trago sorvido
De suco de sede.
Chega com essa farsa,
Perdeu a graça ser humano.
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