(...)
Vejo meu irmão injuriado, que se retira chorando para o quarto, como quem desiste, como quem reencontra sob as camadas sobre as quais nos construímos a dor primal. Aquelas lágrimas, eu já as provei e sei que em sua essência arde a consciência de que tudo é inútil, de que não há palavra gentil que vá evitar o soco nem injúria consentida e por isso vazia que vá lograr disfarçar a submissão e anestesiar o orgulho ferido, que não há estratégia comportamental ou representação, de que nos é vetada mesmo a morte suicida do cavaleiro que avança contra os tanques, símbolo em sua morte do fim que lhe decretou a história.
(O mundo é uma prisão - 2000)
Segue um zine que lancei no ano 2000, portanto, há uns dez anos. Digitalizei do jeito que foi produzido na época, sem maquiar nada, nem mesmo a capa horrível. Peço desculpas por eventuais figuras de linguagem pedantes, por algumas conjugações desnecessariamente "mais-que-perfeitas" aqui e ali e por alguns clichês bem batidos (mas sinceros). São a gordura que vai junto com os trechos de que ainda gosto.
Planeta-prisão é uma coletânea de textos e desenhos produzidos em fluxo de consciência e que registram quadros de sofrimento emocional e existencial, abstrações de situações então vividas e raciocínios nada agradáveis sobre o lugar do ser humano no universo, além de confissões e catarses. Material cheio do morbo que eu carregava.
Minha "lira dos vinte anos".
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