quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Rei africano

  


















É um amor.
Anda à minha sombra,
Calado.
O meu criado.
Um rei africano
Em trajes barrocos,
Cativado,
Esperando o sinal
Do amo.
Bem comportado.

Mas não se iluda:
Reinaria se pudesse.
Se tivesse
Não a virtude
Que admiras,
Hipócrita,
Em marfim, crucificada,
Mas, como o marques,
Teu coração,
Aquilo que o fez
Negro,
Escravizado.

E a meu criado
Sobre algo pagão,
Marquesa, eu ensino
Que se esconde
No mundo cristão.
E o português.
Pra ele, te ouvindo
Falar do dono
Do seu coração,
Isto saber:
É melhor ser rei
Que irmão.


(2004)


   

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