Acariciar,
Como quem tenta segurar
E se assegurar
Junto a um corpo feito em rocha.
Acariciar
Como quem tenta segurar,
Mas o abismo não é feito
De mão e pedra
O abismo é feito
De alma e queda,
Do descaminho dos carinhos
Resvalando em rocha
Na beirada de acabar.
E as coisas que dissemos
Eu as quis anotar
Em traços na minha carne a tombar
E então
A queda quase mão de pedra
Quase mais que segurar,
Quase não mais segurar.
E as marcas que fizemos
São carícias do despenhadeiro
Linguagem de pedra, de espinheiro
E de apedrejar.
E então, respirar,
Como quem deve calar,
Como quem deve segurar,
Mas eu respiro chão
E o abismo não é feito
De mão e pedra
O abismo é feito
De alma e queda
E de acordar
Num dia partido
E ter que levantar.
Acariciar,
Como quem quer segurar
E retomar
Um corpo a negar segurança.
Acariciar,
Como quem quer se segurar,
Mas o abismo não é feito
De mão e pedra
O abismo é feito
De alma e queda.
Mas levantei
E beijei a rocha amolecida
E a face amanhecida
Ajeitou minha camisa
E beijou o abismo da minha vida.