domingo, 27 de novembro de 2011

Carinhos de pedra e perda

 Acariciar,
 Como quem tenta segurar
 E se assegurar
 Junto a um corpo feito em rocha.
 Acariciar
 Como quem tenta segurar,
 Mas o abismo não é feito
 De mão e pedra
 O abismo é feito
 De alma e queda,
 Do descaminho dos carinhos
 Resvalando em rocha
 Na beirada de acabar.

 E as coisas que dissemos
 Eu as quis anotar
 Em traços na minha carne a tombar
 E então
 A queda quase mão de pedra
 Quase mais que segurar,
 Quase não mais segurar.
 E as marcas que fizemos
 São carícias do despenhadeiro
 Linguagem de pedra, de espinheiro
 E de apedrejar.

 E então, respirar,
 Como quem deve calar,
 Como quem deve segurar,
 Mas eu respiro chão
 E o abismo não é feito
 De mão e pedra
 O abismo é feito
 De alma e queda
E de acordar
Num dia partido
 E ter que levantar.

 Acariciar,
 Como quem quer segurar
 E retomar
 Um corpo a negar segurança.
Acariciar,
 Como quem quer se segurar,
 Mas o abismo não é feito
 De mão e pedra
 O abismo é feito
 De alma e queda.

 Mas levantei
 E beijei a rocha amolecida
 E a face amanhecida
Ajeitou minha camisa
E beijou o abismo da minha vida.

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